Do mito da beleza ao mito do estilo de vida
- Carol Mariottini
- 2 de nov.
- 1 min de leitura
Atualizado: 3 de nov.
Antes, o ideal era o corpo perfeito. Hoje, ele vem acompanhado de uma nova cobrança: o estilo de vida perfeito. Acordar cedo, água com limão, exercícios, leitura, produtividade, equilíbrio, skin care.
Atravessado pelo poder das redes sociais, esse ideal chega até nós como algo possível — como se bastasse organização e força de vontade para dar conta de tudo. Passamos a acreditar que há uma forma certa de viver. E que, se não conseguimos, estamos falhando.
Mas a verdade é que essa busca pela rotina perfeita costuma nos afastar de nós mesmos. Em vez de descanso, produz cansaço. Em vez de leveza, gera cobrança. A vida vai sendo preenchida por metas de desempenho e, aos poucos, o cuidado se transforma em obrigação.
O efeito acaba sendo o contrário: culpa, comparação, e a sensação de estar fracassando e sempre devendo algo pra si mesma. Como se a cada dia fôssemos medidas por uma régua invisível, que nunca permite sentir que é suficiente.
Talvez o problema não seja querer cuidar de si e da própria vida — isso é legítimo e necessário. O problema começa quando o cuidado vira mais uma forma de controle. Quando, em vez de escuta, há cobrança. Quando o descanso precisa ser “produtivo”.
Cuidar de si não é cumprir um roteiro ideal de autocuidado. É poder se escutar. É reconhecer os próprios limites, as pausas, os dias bons e ruins — sem transformar tudo em performance.
Porque, quando a vida vira uma meta, a gente para de vivê-la.

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